Família Caovilla - Notas
Notas
FERDINANDO CAOVILLA
Ferdinando Caovilla, nasceu (02.01.1867) em Cavasagra, comune de Vedelago, província de Treviso/Itália e veio só da Itália para o Brasil em 1891 aos 24 anos de idade.
O motivo: Contrariedade com o patrão da fazenda onde trabalhava com a família de seu pai Luigi. Seu patrão ordenou que trabalhasse aos domingos “perche há ordinato de palare Il grano de domenica”. Ferdinando respondeu que dia de domingo não trabalharia, pois era o dia do Senhor e que isso seria observado em toda sua vida e de seus descendentes.
Para não causar, com sua desobediência, nenhuma represália ao seu pai Luigi, resolveu vir para o Brasil já que um Vapor partiria em poucos dias e o governo italiano juntamente com o governo brasileiro estava custeando a saída de italianos para o Brasil.
Após concluir sua documentação, despediu-se saudoso de seus familiares e foi para Genova, onde embarcou para o Brasil. Depois de 29 dias de viagem chegou ao porto do Rio de Janeiro, de onde saiu com destino a cidade de Porto Alegre no Rio Grande do Sul, lá chegando em 9 de dezembro de 1891.
Os italianos que se destinavam ao Rio Grande do Sul seguiam viagem com escalas em Paranaguá (PR) e Florianópolis (SC), até a cidade de Rio Grande. Os imigrantes que iam para a serra gaúcha, por meio de Pelotas, ingressavam na Lagoa dos Patos e atingiam Porto Alegre, seguindo para o porto dos Guimarães, em São Sebastião do Caí, onde desembarcavam após 10 horas de barco. O trajeto seguinte, até o topo da Serra, era feito a pé, com a ajuda de mulas e cavalos.
Ferdinando saiu de Porto Alegre em 16 de dezembro de 1891 com destino a Caxias do Sul e de lá foi para a Colônia Antônio Prado núcleo colonial criado em 1885, à margem direita do rio das Antas, lá adquiriu o lote 94, na Linha Trajano de Medeiros, com a área de 309.500 m2 (30,25ha) tratava-se, na verdade de meio lote pois Nando era solteiro. Tomou posse em 06/10/1892 com prazo de pagamento de 10 anos e mercê de seu trabalho conclui o pagamento em novembro de 1898 antes do prazo final.
Quando saiu da Itália, Nando, como era conhecido, deixou uma namorada “una belíssima ragazza” com a qual pretendia se casar. A distância e a impossibilidade de voltar arrefeceram o amor que Nando sentia por ela.
Em Antônio Prado, Ferdinando conheceu Giuditta Trentin(*1875 – 31.01.1910), uma italiana de 18 anos vinda da região de Brusaporco, comune de Vedelago, portanto, sua conterrânea. Giuditta era filha de Pedro Trentin e Rosa Robassa. Casaram-se em 19 de abril de 1893 sob as bênçãos de Padre Alexandre Pellegini tendo como testemunhas Santo Andreeta e Francisco Soldá. Dessa união tiveram 11 filhos: Ângela (14.01.1894 – 01.01.1976); Luiz (19.04.1895); Águeda (26.05.1896); Germano (30.08.1897) e Ângelo (15.10.1898) que nasceram em Antônio Prado e os demais, Maria, Zeferino, Joana, Itália, Henrique e Elizabeth em Casca (RS) para onde Nando mudou-se provavelmente no ano de 1899. No Arquivo Público do Rio Grande do Sul encontra-se o documento Habilitação de Casamento, espécie de edital, datado de 30.11.1898 com os seguintes dizeres: “Ferdinando 31 anos de Vedelago residente em Antônio Prado – Giudita Trentin 23 anos de Vedelago, residente em Antônio Prado testemunhas Giovanni Decarli e Ramiro P. Santos” Isso nos faz crer que Ferdinando causou primeiramente no religioso e posteriormente no civil.
Em 1910, já em Casca (RS) para onde se mudaram, Giuditta, com 35 anos de idade faleceu no dia 31.01.1910, na nobre missão propagar o gênero humano. Nando ficou sozinho com 11 filhos para criar e em 1913 apareceu em sua vida Tereza Cordaz, uma viúva descendente de italianos com 10 filhos. Resolveram unir-se e dessa segunda união nasceram mais três filhos (Maria, Vicente e Judithe), perfazendo uma família de 24 filhos que Tereza e Nando criaram, com muita dificuldade, mas com amor e carinho.
Ferdinando foi uma pessoa de espírito forte e corajoso, honesto, trabalhador e sempre conformado com a vontade de Deus. Livre de toda vaidade mundana, faleceu em 14.10.1948, aos 81 anos de idade e 58 anos de Brasil. Partiu cercado pelo conforto de sua numerosa família e amigos e na paz do Senhor. Foi sepultado na Linha 18 Caovilla em Casca (RS), comunidade construída por ele.
Autor: Francisco de Paula Belato
Fontes: Cópias de cartas cedidas pelo Dr. Ruvie, livro “Povoadores de Antônio Prado ‘ do Frei Rovílio Costa, pesquisas na internet e dados fornecidos por Enio Simon
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VOVÔ ADAMO
Interessante como, a partir de certa idade, você começa a se dedicar a um novo passatempo ao qual dou o nome de “revirar o baú de recordações”. E assim é que hoje resolvi ir bem fundo, buscando recordações de meu avô materno – Adamo Caovilla.
São poucas, porém muito doces, as lembranças que foram registradas em também poucos anos de convivência. Na memória da criança de cinco anos de idade ficou a figura austera de um senhor muito bondoso. Estatura mediana, cabelos bem grisalhos, cortados muito rentes e a voz de trovão, naquele inconfundível sotaque italiano – detalhes que completam a imagem que guardo de meu avô.
Reviro mais um pouquinho o baú e encontro vovô sentado em uma cadeira de balanço, ao lado de um antigo aparelho de rádio ouvindo notícias do Brasil, mas com o coração e o pensamento bem distantes, vagando, quem sabe, pela sua querida Itália.
De repente, quase posso ouvir as notas de uma dolente canção italiana que saem pela corneta do velho gramofone, colocado sobre o aparador da enorme sala de jantar. E vovô com o olhar perdido, embalado pelo ritmo monótono da cadeira, a saudade a lhe martelar o peito.
Em momentos como estes, “Madonna mia”, ai do neto que se atrevesse a importuná-lo...
Ele aprendera sozinho a dominar as palavras do novo idioma e por isto o vejo agora com um jornal nas mãos, lendo para vovó ouvir, algo que achara interessante.
Os quadros se sucedem e, um pouco apagada pelo tempo, vem a lembrança de um primeiro de janeiro e ele, da sacada da fazenda, atirando moedas para o alto. Embaixo, os netos em atropelo tentando apanhá-las. Segundo dizem, este era um costume italiano que ele conservou talvez como uma recordação de sua própria infância...
Nada mais posso contar que não seja por ouvir dizer: que vovô era progressista, que gostava de viajar e de andar bem vestido, que os pobres da Vila Vicentina o adoravam e que vovó Adélia morria de ciúmes dele.
No dia 11 de setembro de 1955, com apenas 64 anos de idade, vovô faleceu. Era dia do meu aniversário. Durante alguns anos, a alegria desta data desapareceu e, no coração de todos, ficou a profunda tristeza de ter perdido uma pessoa muito, muito querida.
(Vera Lúcia Belato Baldim)
Nepomuceno, 11 de setembro de 2000
VAPOR ESPAGNE no qual os Caovillas vieram da Itália.
Empresa: Societè Generale de Transports Maritmès
Nacionalidade: Francesa
Tonelagem: 3.952 toneladas
Lançamento: 1891
Primeira viagem: Ano de 1891
Destino final: Desativado e sucata em 1934